E começa o tal mês rosa, ora ora

Vai começar aquele benedetto mês da fitinha rosa de novo.

Serfie pós-operatório em 22 de outubro de 2017, quando eu ainda tinha cabelão e tava tirando 21805781 fotos no espelho pensando que tava me despedindo de moi.

Outubro é o mês da conscientização do #cânderdemama.

Também é meu #cancerversary.

Três anos atrás, que parece muito e nada, no dia 05 de outubro, recebi a retumbante notícia na sala de espera de ginecologia, diante do olhar curioso de mulheres grávidas e seus maridxs. Fui ao hospital sozinha, tinha uma intuição já há semanas. Me mandaram sentar e esperar. Ou ir comer alguma coisa.

— COMER, doutor?!??

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<<bles bleleleee?!>>

Depois de uma hora, que dediquei com um esforço passarístico à meditação mais power rangers da minha vida até então [lágrimas só vieram muito depois], o médico voltou da reunião de conselho sobre o meu caso. Com o script do tratamento, que duraria longos seis meses e, depois, 10 anos — se eu viver pra ver.

Tudo isso ele, cabelinho branco e cara muito cansada, me explicou umas três vezes.

— Susana, eu preciso que você esteja aqui comigo. Me escute. Como é que você vem aqui sozinha, menina?!?

[Como é que eu ia saber que minha vida ia mudar numa prosaica sexta-feira de sol em Barcelona?!]

No fim, eu tava tão em choque que o médico, que poderia ser meu pai, que estava tão longe naquele exato momento, como toda minha família, pegou minhas mãos e disse: nós vamos te curar — com lágrimas nos olhos, ou seriam nos meus?

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<<tu tu tu tu >>

Liguei pra uma amiga irmã, que veio correndo pra estar ao meu lado. Sla Vieira, te amo.

Eu lembro de ca-da-de-ta-lhe desse dia. E dos que se seguiram.

E dos amigos-família que brotaram. Judith Canelles, Sotero Sotero, que me acolheram em sua casa nos dias pós-quimioterapia, quando eu mal conseguia levantar da cama; e outros mil hermanitxs que me acompanharam às sessões, dormiram comigo segurando minha mão, passearam, me alegraram, choraram e vibraram comigo, me mandaram canções, poemas, cartas, presentes, me contaram coisas profundas de seus corações. Obrigada, obrigada… [pronto, lágrimas]

Empowerment and Solidarity Pat Benatar on Make a GIF
não sei o que significa esse gif, mas dá vontade de dançar madonna e encurralar uns cara de calça cargo na disco

O câncer mudou a menina aqui, me ensinou muito. É o maestro que não pedi e vem me dando um phD dus carayu.

Deixei anéis e tranças pra trás, e tive também que abandonar a esperança pra que ela pudesse nascer de outra forma, chamada Agora.

Chamem de mindfulness. Eu chamo de Curtir O Que Há ou, conforme o dia, Tentar Acalmar O Cavalo Selvagem da Alma.

Porque tem hora em que cago de medo dos mil exames e controles, do dia de amanhã, daquela dorzinha suspeita. Ao ouvir notícias (infelizmente, siempre las hay) de falecimentos por câncer, alguns muito precoces. A gôndola periclitante entre Acreditar e Fluir X Pensar Em Merda, Mointa Merda.

Que, por sinal, é a corda bamba em que vivemos muitos de nós, inquietos serezinhos formiguísticos, com ou sem câncer. Nénon?

are you afraid of the dark? gif | WiffleGif
ça va sans dire (a única frase chiquê que sei em francês)

****

Outro dia, na praia, eu observava o mar quando uma família de mãe-pai-filho de uns 5,6 anos se interpôs à minha vista, interrompendo meu momento, err, celestial.

Eles tiraram os sapatos e, segurando as mãos do menininho, levaram ele pra beira da água. O menininho soltava tantos gritinhos de alegria com cada onda que, vou falar a real, vagamente me irritei.

Por um segundo. Subi o olhar pra nuca do menino, depois pro rosto, e vi: sem um pelo, olheiras fundas demais pra sua idade, as bochechas infladas — ele era meu camaradinha de jornada.

Como outros. Se você que está me lendo também é um/a camarada de jornada: um abraço do tamanho de uma nuvem phopha pra você…

To be continued….

#108 – Confinamento parte II, ou: garantia é pra com.puta.dô

Ayayay.

A partir de amanhã, sábado 18 de juliet, é oficial: tamo confinado de novo.

Hoje, trombando casualmente com um amigo mexicano no charmingboêmio bairro barcelonês do Borne (depois do já indefectível oizinho-de-cotovelo), ultimamente meio vazio, ambos expressávamos nossa profusa decepção com a notícia e com a humanidade.

Pra ser muy sincera, nossa preocupação imediata era de repente não saber se nossas tão acalentadas viagens pra Tenerife (no caso dele) (uma das ilhas canárias, recomiendo) e pra Toulouse, no meu caso, pra ver meu irmãozim que está terminando de construir sua casa maraviosa no sertão francês ao lado dos Pirineus, vão poder rolar.

Por ora sem caráter de decreto, e sem, portanto, o efeito restritivo megachicachicaboomboom de um estado de emergência como o que tivemos por 3 meses na Espanha, o anúncio de hoje basicamente ´recomenda´ o confinamento de toda a Barcelona, com medidas sociais restritivas que por enquanto não podem legalmente impedir o ser humanus de sair de casa ou se locomover sobre território nacional.

These are the worst places in Ireland for traffic congestion | JOE ...
Esperemos trânsitos homéricos de debandada fimdesemanística

¨É, mas os surtos estão por todo o país. Quem disse que não vem um decreto por aí?¨ — lamuria-se mi amigo.

Tem razão, tem razão.

Aconteceu assim num piscar de pestañas. Em uma semana, os casos em Barcelona triplicaram, chegando a 500 nos últimos sete dias, com 29 focos identificados até agora.

Para conter o alastramento do vírus, o governo da Catalunha lançou uma série de medidas de “recomendação” valendo, a princípio, por 15 dias a partir de amanhã.

Entre elas, lotação máxima de 50% em hoteis, restaurantes e bares; fechamento de casas noturnas, academias de ginástica, museus, teatros etc (apenas bibliotecas permanecerão abertas); limitação de reuniões para 10 pessoas; atendimento comercial apenas com hora marcada; e recomendação de só sair de casa para tarefas “imprescindíveis”.

Em suma, voltamos ao básico da fase 2 da desescalada.

A polícia municipal já avisou que vai deixar a fase de “informação e acompanhamento” e começar a lascar a canetinha em quem for pego sem máscara em qualquer circunstância que não seja comendo e bebendo.

Face Mask Mirror GIF - FaceMask Mirror Reflection - Discover ...
De volta aos workouts de iutubi e máscaras caseiras de argila

Do jeito que avança a carruagi, tá mais fácil causar estrepefúncios e fúria social tando desmascarado que pelado na rua. Tá no bar e levantou pra ir ao banheiro? Sem máscara, o indivíduo pode levar um esbregue de 100 euros.

As 30 mil multas emitidas durante o confinamento em Barcelona já começam a ser tramitadas. Bom livrar o aparelho burocrático mesmo, porque, a se julgar pelos panaka com máscara no queixo ou no braço que ainda vejo nas ruas, vem mais aí, pepepepepessoal.

Weird beauty scary GIF on GIFER - by Kulanara
#tendência

 De toda forma, é verdade que, com 37 casos por 100 mil habitantes, ainda tamo longe do caso extremo de Segrià, região da Catalunha já isolada desde a semana passada, com um índice de 445 contágios por 100 mil habitantes.

Segundo a prefeita Ada Colau, os contágios em Barcelona por ora sao ¨brots petits¨, mas preocupantes. Pra se ter uma ideia, o mais grave deles aconteceu no clube de pólo (!) de Barcelona, de onde saíram 12 contagiados, a maioria do staff.

E #comofass com os turistas gringos que, há umas duas semanas, começaram a arrastar suas malinhas com rodinha nas ruas rústicas do centro histórico?

Com as notícias dos últimos dias, as ruas voltam pouco a pouco a estar vazias. Dois amigos que alugam quartos ou apartamentos via airbnb tiveram todas as reservas canceladas de uma hora pra outra. Dura segunda surra aos setores de turismo e comércio, que já vêm lutando arduamente contra sinais de kaput pós-pandemia: lojas fechadas, horários reduzidos de funcionamento e mointas, mointas caras desanimadas espiando por locais vazios.

Meu namorildo, que mora num município da grande Barcelona por enquanto não afetado pelas novas incríveis aventuras coroníticas, já me escreveu hoje, com 3413805 corazones: vem pra cá antes que fechem tudo!!! Lá tem praia, muito samba e roquenrol (ruim, que os punto.cat me perdoem, mas tá valendo). Fazendo a mochiliña em tres… dos… uno….

#107 – The luna de miel is over

Barcelona, terça fritopan de verão, e, bom, a lua de mel com o pós-pandemia começa a azedar.

The Last Weeks of the Semester According to RuPaul's Drag Race ...

Retrospectiva rápida, para os viajantes asimovianos de outras galáxias:

  • 14 de março: o governo español declara o estado de emergência diante do aumento de casos de Covid.
  • abril: ápice de casos, com o recorde de 950 mortes em um único dia, ou 2 por 100 mil habitantes.
  • maio: início do desconfinamento escalonado em todo o país.
  • junho: Nova Normalidade. Sensação de modess carefree, liberté igualité fraternité, Vírus Nunca Mais, oba-vamo-pa-praia-todo-mundo-de-uma-vez. Bares cheios, e o povo parece beber, festejar e acumular cascos de cerveja sobre as mesinhas de metal dos buteco como se nunca.
  • julho: começamos o mês com uns 30 novos surtos, e duas semanas depois já temos uma centena em todo o território.

A maioria de focos deriva das fatídicas reuniões domésticas/familiares/festinhas e tem sido controlada por quarentena seletiva de infectados e as chamadas ´pessoas de contato´.

Outros, porém, estão começando a sair do controle.

baby one more time britney spears gif | WiffleGif

É o caso dos contágios entre os ´temporeros´, trabalhadores temporários de diferentes nacionalidades que costumam vir à Espanha a partir de abril/maio para a colheita de frutas.

Muitos são imigrantes ilegais ou têm medo de ficar sem trabalho, e portanto se recusam a fazer o teste.

Resultado: super double shitty dificuldade na hora de identificar e controlar os contágios (os testes são voluntários, e não há atualmente mecanismo que force o serhumanus a realizá-lo contra sua vontade) >> zica se agravando vertiginosamente.

Além do mais, diversos trabalhadores entrevistados dizem que, se tivessem que se confinar, não teriam onde se meter — muitos vivem temporariamente na rua ou em apartamentos divididos com 10, 20, às vezes até 30 pessoas.

Mas a situação extrema entre os atuais surtos secundários pós-desconfinamento se encontra na região catalã de Segrià, perto de Aragón. 209 mil habitantes em 2 mil quilômetros quadrados. Mal bate a população de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, ou Santa Bárbara do Oeste, em Sumpalo, de onde por sinal vem um amigo muito querido que fala com os RRRR delícia do interioRRRR e cujo apelido, desde a época da faculdade, é Pé (de Pé Na Cova).

Amácio Mazzaropi – DE OLHO NA TELINHA!

But I digress.

Em Segrià, desde o início da pandemia até agora houve/há 3.447 casos confirmados de coronavírus, com 151 novos registros apenas nas últimas 24 horas (aka 71,7 por 100 mil habitantes). Em apenas duas semanas entre junho e julho, os casos notificados se multiplicaram por 7, com notável aumento entre a população jovem, os mais rebeldes no cumprimento de medidas simples como uso de máscara e distanciamento social.

Os contágios em Segrià correspondem a 1/3 de todos os da Catalunha, que contabiliza retumbantes 745 novos casos desde ontem.

E a novela está em curso: contrariando o governo da Catalunha, que desejava isolar a região por meio de um decreto de estado de alarme, ontem uma juíza disse que não, que isso era competência do governo central; em seguida, a própria vice-presidenta do dito contestou a decisão judicial e declarou seu apoio à Catalunha; ao que Quim Torra, o governador catalão, mandou uma mensagem a Segrià dizendo que por ora ´recomendava´ o confinamento. Isso tudo esta semana.

Fast forward pra hoje e temos em Segrià a população e os policiais confusos diante de bares e negócios abertos e um monte de gente na rua. Um agente assim resumiu a situação a um jornal local:

“Isso é uma zona, aqui ninguém sabe o que se deve fazer e cada um faz o que quer”.

“Keke custa botar a máscara e se separar das pessoas por uns dias?”, indignava-se um médico de um hospital local trabalhando com pacientes de Covid. A ocupação dos leitos ainda é administrável, mas está subindo a cada dia.

A essa pendenga, talvez a mais preocupante do país no momento, se soma, por exemplo, um novo surto em L´Hospitalet de Llobregat, cidade-dormitório com a maior densidade demográfica da Catalunha, colada com Barcelona. Oh-oh apaches.

Uma amiga, que trabalha em um consultório dental local,disse: tô sentindo que vão voltar a fechar a clínica. Ontem, 8 dos 15 pacientes agendados simplesmente não vieram. “Mas como assim, eles tinham corona?”, pergunto. “Não falaram nada. Só um telefonou avisando que tinha febre”, disse.

Hoje, me ligou um amigo català que mora no município e trabalha na prefeitura. Com su modus irônico típico, me conta que acaba de receber o resultado do teste PCR, oferecido para os funcionários, “e vaya decepción, no he pasado el corona”. Pergunto se estava sentindo alguma coisa esses dias, e ele, que sempre está me azucrinando sobre o doidivano do presidêncio do Brasil, emendou: “pois os sintomas eram estes: un resfriadinho (sim, ele, como outros gringos, já aprenderam portuguezinho com o Bolsillonaro)! Nada grave”.

Bolsonaro máscara torta - Imgflip

Eu comento que outro dia alguém me fez um comentário que eu classificaria de infeliz, embora, quero crer, não mal-intencionado: “Susana, acontece de tudo com você! Câncer, coronavírus….!”.

Vaya gradação de Cousas Megatônicas postas num mesmo saco imaginário. Meu amigo, que é sarcástico, mas um doce de membrillo, me consola: “é verdade, mas, como todo mundo sabe, hay que pasarlo mal para después pasarlo bien, e você já passou quase todo o mal. Grandes aventuras y alegrías te esperan ahead” (sic).

Nos esperam. Que a fé não pode faiá, diz o arautus. O non?

#106 – Yet outra batata chip

O bairro do Raval, no centro antigo de Barcelona, me lembra em algumas esquinas a República, no centro de São Paulo, em suas facetas mais dark.

Às prostitutas, traficantes e imigrantes, principalmente africanos e ‘magrebís’ (árabes do norte da África), costumam se misturar no verão muitos turistas.

Alguns, em busca do ‘red district’ dos ‘puticlubs’ ou de alguma drugueta; outros, encantados com a arquitetura mezzo linda mezzo caos, que inclui tesouros como a biblioteca de Sant Pau-Santa Creu, um conjunto gótico maravilhoso do século X, com pátios e fontes onde nadam os sabiás; e outros, ainda, alugando algum apartamento gentrificado airbnbiziss, entranhado em um desses indefectibles edifícios antigos e rangentes do Raval com escadarias inacreditavelmente estreitas.

Como a que desço, que pertence ao prédio onde vive um amigo inglês. Com seus quase 2 metros de altura, o contraste entre escadinha, portinha (não sei por quê, aqui é muito comum porta pequena) e o gigante parece uma fábula ruim de terça-feira.

Na saída do edifício, damos de cara com um sujeito injetando heroína no meio da rua, entre transeuntes e lojinhas marroquinas de nozes, tâmaras e chip de celular, as melenas encardidas fulgurando em toques-ouro ao sol da tarde, as pernas abertas e a virilha projetada pra frente, concentradíssimo nazagúia. Uma policial passa de moto, dá uma distraída olhada na cena e segue reto.

Não acontece a cada esquina, mas tem.

As ruas da cidade permanecem chocantemente vazias. Muitos negócios fechados em plena Nueva Normalidad. Aqui e ali, os turistas gato-pingado tirando fotos de monumentos e falando alemão-francês-chinês parecem até meio fora de lugar.

Dels é fiéu #sqn

Dos 30 e poucos mini-surtos de contágios pós-confinamento na Espanha, saltamos esta semana pra mais de 50, abrangendo 13 das 17 comunidades autônomas do país.

Alguns dos surtos são expressivos: é o caso de Aragón, onde há mais de 300 casos confirmados entre os chamados “temporeros”, trabalhadores temporários que vêm esta época pra colheita de frutas na região. As comarcas atingidas permanecem na fase 2 de desconfinamento.

A maior parte, porém, está circunscrita a poucos contágios em contextos específicos. É o caso de um edifício inteiro em Santander, Cantábria, onde foram identificados 14 positivos com “vínculo epidemiológico confirmado”.

Na ilha de Fuerteventura, no arquipélago das Canárias, os primeiros casos (uns 30, depois de semanas com zero contágios) foram importados: vêm dos imigrantes africanos que chegaram em “pateras” (pequenos barcos) recentemente.

Uma conhecida que não via há tempos me comenta hoje: “pois é, tô teletrabalhando desde o início do confinamento. Sempre fui de ir a eventos sociais, sair muito, ir a festivais. Mas, agora que a gente pode sair de novo… tô a fim de ficar em casa”.

I hear you, chica <<< penso yo, enquanto estico a mão sobre o computador pra pegar yet another batatachip >>>

#105 – Pranayama para agulhas grandes pa porra

A agulha da injeção que me espera é do tamanho de um canudo grosso. Eu olho pro outro lado, como de costume. Vai fundo, Lola, digo.

Lola é a enfermeira do posto de saúde perto de casa, um dos maiores de Barcelona.

Pra minha surpresa, Lola mete a agulha na minha barriga (uma nova medicação anticâncer de nome até meio tech-hollywoodiano, Zoladex) e recita, com voz doce de vó:

“Agora, mi niña, solta o ar como se estivesse soprando uma vela

E inspira como se cheirasse rosas”.

Lágrimas de comoção vêm aos meus olhos enquanto o líquido frio invade os músculos abdominais. “Tu é una poetisa, Lola!!! Agora vou querer uma dessas cada vez que vier. De onde você tirou isso?”.

“Ah, é o tipo de coisa que dizem em aulas de ioga”, ri. Sua voz é suave suave, e os cantos dos olhos se enrugam num sorriso (ou um suplício, como é que a gente pode saber, mel dels) detrás dos oclinhos de aro vermelho.

De máscaras, as duas.

Além de mim, só um velhinho bem velhinho lá atrás do mar de cadeiras lacradas com fita em X da sala de espera. Tá meio vazio por aqui ainda, né? As pessoas estão com medo de vir por causa do vírus? — pergunto.

“Nada, nós é que não estamos deixando entrar, a não ser para casos mais urgentes”, explica Lola.

E é verdade. Na entrada, dois enfermeiros tomam a temperatura e fazem uma triagem. Na fila que eu peguei, só entrava quem tinha hora marcada. Duas mulheres atrás de mim tiveram que dar meia volta e desencanar. “Mas eu acho que tenho o vírus! (e tosse a fia da mãe, a título de ilustração)”. Não adianta, esses são exatamente os casos que devem ligar pro número especial e obter orientação médica remota.

Fácil dizer. Meu namorado acaba de me ligar dizendo que o pai deu positivo no PCR. “Virei pessoa de contato DE NOVO e vou ter que meio-que-fazer outro confinamento”, me diz. A primeira vez foi comigo, quando eu dei positivo há uns 20 dias. Sua médica tinha lhe dito que era certezabsoluta que teria o vírus. Em teoria, portanto, estaria já imunizado. Mas como saber?

O papo me deixa mais alerta. Vou perscrutando o vagão do metrô — lotado, sábado de sol em Barcelona, e começamos a voltar a escutar várias línguas e ver gentes com cara de cabei-de-chegar (malas, cara branca-vermelha de sol, demasiado ruído festivo nas conversas diurnas em transporte público…) — e me irrito. Quem é aquele guri sem máscara, CARAYO! E essa mulher que sentou do meu lado com o nariz de fora!

Vaga taquicardia. Calma-Susana-calma. Penso nas fotos recentemente publicadas das praias de Barcelona e Reino Unido, abarrotadas. Como vamos fazer? No UK, a polícia não conseguiu esvaziar as praias. “You know, inglês nunca vê clima de 30 graus como está fazendo, então tá todo mundo desesperado por uma praia lá”, comenta uma amiga inglesa que vive aqui, enquanto pedalamos para a (nossa) praia aqui. Hmm.

Lotada. Nível Praia Grande com escort tunado e cheiro de camarão frito com criança gritando. Socorro. Todos queremos um lugar ao sol, sim. Lembro da Lola. Inspira rosas, muitas.

#104 – As Novas Croquetas

IG: @EllenMacomber

Reconstrução pós-pandemia….Remdesmesmemsivir (o novo medicamento anticorona aprovado pela União Europeia)… suíte número 1847089 sobre o drama das residências de idosos na Espanha, onde morreu muita, muita gente sem assistência médica adequada….

E eis que de repente o noticiário español do dia discretamente inclui uma RECEITA DE CROQUETE.

Os croquetes daqui não são como os da minha terra onde canta o sabiá etc. Pra começar, são AS CROQUETAS — e a mudança de gênero, na minha cabecinha pan-binária, altera todo o microcosmo do bolinho.

No Brazel a gente faz croquete com recheio. Certo? Croquete sem recheio é bolinho de chuva, é bolinha de queijo que deu errado.

Aqui, em geral, a predileção é por uma massa-roca em que se mistura tudo. Os/As clássic@s são de cogumelos, frango, bacalhau ou espinafre (verdes/negros, uma coisa não-bonita). Já cheguei a protestar contra as croquetas fritas com recheio de nada quase com lágrimas nos olhos, tentando explicar aos circunstantes o que é uma coxinha boa, com a voz saudosa e embargada do meu espanholês.

Mas a verdade verdadeira é que sigo comendo tanto croquetes como croquetas, ora, sim sinhô.

Así que me callo.

O fato é que o espanhol NovoNormal™ está assim, pouco a pouco levitando e migrando pra papos mais amenos. A gente quer falar besteira, quer viver o verão.

“Ei, você viu o filme que um sujeito gravou com o celular durante o confinamento e que viralizou e deu muito muito dinheiro?!”

Meu compi de apartamento, no terraço de casa em uma noite especialmente quente. Estamos no escuro, porque a noite é clara. Sentados, contemplando o tranquilo skyline de Barcelona, pensando em ideias pra ganhar dinheiro fácil pós-pandemia. Ou pra ganhar dinheiro pós-pandemia, o que tá difícil de qualquer maneira.

“O problema de se mudar de emprego agora é que em dois meses pode ser que a gente tenha que se confinar de novo, e aí…”. “Bom”, digo. “Mas você é informático, pode provavelmente trabalhar de casa”. Mais ideias, precisamos de mais ideias geniais.

“Susana, inventa um canal de youtube. Fala de cosmética, ou sobre coisa nenhuma, botamos uma webcam na sala, como as sexcam, mas de vida tamagoshi, sei lá”, disse. Ok ok. Seguimos a pré-elaboração de nosso futuro imaginário. E ele me mostra uma matéria chocante sobre um americano que, em 2006, conseguiu ganhar uma CASA só com um CLIP VERMELHO, sem gastar absolutamente nada.

Agora, além de ganhar casa, o cara gravou TED talk, virou verbete de wikipedia e assim por diante. Ficamos em silêncio um momento. Contemplando nossa Normalidade.

Lembrei da Ellen Macomber, uma valente americana que um dia desses teve a nada-original ideia de fabricar umas máscaras, err, fashion com buracos pro canudinho. O carro-chefe são umas de lantejoulas que parecem minha fantasia de carnaval de 92 reciclada. 60 dólares cada, com uma tampinha interior pra quando não estiver chupando nada. Vou dizer, parece um cu festivo cansado em quarta de Cinzas.

Parem, apenas pah-rem poh-favô
Nãaaaoooooo! Tão criando tendênciaaaaaa

Eu quero uma, mas não quero uma. Jeckyll e Hyde da pandemia se matam a tabefe dentro de mim. Tem vários tipos de fobia, né? Pois eu descobri que tenho máscaracomburacoprocanudinhofobia. E, sim, eu cliquei na receita de croqueta.

#103 – Um espetáculo pra planta ver

“Concierto para bioceno”, Liceu de Artes de Barcelona, 22 de junho

Um amigo músico me manda lá de New Orleans um link e me diz: “Susana!!! isso é sério????!”.

Como é que eu deixei passar. É sério, sim, seriíssimo.

Na segunda, primeiro dia oficial do Novo Normal (mel dels… preciso de um termo diferente, que esse me dá a impressão de matar um passarinho de ataque cardíaco cada vez que eu digo), o grande peposo bonitoso auditório do Liceu de Artes de Barcelona teve uma ideia única pra reabrir a temporada depois de 3 meses de silêncio: um espetáculo exclusivo —– para plantas.

Mais exatamente, 2.292 espécimes de todos os tipos, tamanhos e folhas, colocados bonitinhos em seus assentos vermelhos de veludo, posicionados com carinho pra que seus clorofilófilos possam captar em todo o seu esplendor as notas de Crisantemi, obra de Puccini, apresentada pelo Uceli Quartet.

(( uceli > uccelli > ocell em catalão = pássaro ))

Para aplausos, uma gravação de folhas ao vento.

O projeto loko é obra de Eugenio Ampudia, um dos artistas multiconceituais mais badaladex da Espanha.

Uma de suas performances mais conhecidas, de 2015, é a série “Dónde dormir”, em que ele levou seu colchãozim pra bater um ronco em lugares como o palácio de Alhambra e o Museu do Prado (que, recorda, demorou 9 meses pra permitir que ele adormecesse enroladiño no saco de dormir ao pé de “El tres de mayo de 1808”, icônico quadro de Goya).

“Por trás da aparente banalidade desse gesto cotidiano (dormir…), se esconde uma posição política e de resistência diante de certas ficções sociais ou convencionalismos”, disse Ampudia sobre tal projeto.

Cortando pra 2020, o recém-executado “Concerto pela biocenose” (“Concierto por el bioceno”), na minha vã opinião, devia incluir cabras, adães e evas; e umas cobras e lagartixas e pernilongos. Mas tá valendo. É uma ideia maravilhosa, eu acho. A gente tá realmente precisando aproveitar o momentum pra uma mudança de paradigma, ou de muitos, dentro-fora-e-coletivos.

Como diz o título, a proposta poderia ser descrita como evocar a necessidade/inevitabilidade/maravilha/desgracêra/possibilidade de União entre Todos os Seres, partindo do princípio de que biocenose (aka biota ou comunidade biológica, termo cunhado no final do século 19 pelo zoólogo alemão Karl Möbius) is what we’re all about.

Vírus incluído, né.

#102 – Quando a gente não tá num bonito estado de espírito

24 de junho de 2020, terça, véspera de San Juan

Esses catalães são uns PI RO MANÍA COOOS!!!
E começam de pequeños, os muleque da minha rua já estão a toda estourando uns traque da pesada e me dando sustos a cada 3,58 segundos.
<< Coitados dos cachorros da nação >>
A véspera de São João é uma grande festa em toda a Espanha. Aqui em Barcelona, geralmente o povo vai pra praia, acende zil fogueiras, e tooooma fogos de artifício.

Mas não em 2020, o Ano do Vírus. As praias foram fechadas hoje, as festas de rua suspensas, os piro-órfãos resolveram fazer o badauê à sua maneira E EU TÔ FICANDO LOKA.
Plus resolvi ficar sozinha na casa do namorildo catalão enquanto ele se diverte a valer com amigos em Outro Lugar porque não me sinto muito bem, minha barriga tá de 8 meses por conta de um inchaço ainda não explicado pela ciência (possivelmente ligado a questões hormonais semiurgentes relacionadas ao meu pós-câncer, e quem disse que dá pra encontrar médico nesses dias de feriado?!) (e quem disse que eu tô tranquila com isso?!) (tô surtando, não surta, tô surtando tô surtaaaaa aaa anooooo), e, pouco a pouco, como uma trepadeira marota, vai subindo pelo meu ser uma paranoia, a Noia da Solidão e da Autopeninha Quando Tá Todo Mundo Celebrando.

Não creio que sou a única a sentir essa classe de cousas, mas incrível como nesses momentos a gente se sente só, que é a pirada das galáxias.

Hoje, segundo dia da tal Nova Normalidade pós-pandemia na Espanha, essa festa-não-festa-mas-festa BOMBÁSTICA DO CARAYO <<<os gritos das crianças, as explosões, a dance music cruzando com o reggaeton e gerando filhos duendes dançarinos de techno-hula-hula>>> tem um caráter extra-celebratório.

Como uma catarse sem charme, única descrição em que consigo pensar com TANTO TRAQUE ESTOURANDO NA MINHA ORELHA.

Ficar em casa me faz pensar: e o vírus, gente? Ceis esqueceram? << Susana, sua estraga-prazeurez>> E se esse inchaço for coisa séria? E se a gente estiver viajando, o que é que eu ignoro neste exato momento, o que importa nessa vida? Etcétera. <<agora os vizinhos estão em suas janelas cantando um poperô espanhol em UNÍSSONO>>

Abri o armário do boffs e busquei um gin tonic, que fabriquei com um resto de Aquarius xoxo da geladeira.

#101 – A liturgia dos porquinhos sagrados

Cousa bunita de @Aniol Yauci

Gostaria de ter braços longos, ser um polvo.

(polvo aqui na España é outra coisa, vai vendo)

Estava aqui preparando um tempeh caseiro ruminando uma canção. Eu canto porque penso que assim a comida será feliz e eu também. Me internem.

Um amigo catalão da categoria Resmungão e Adorável acaba de me escrever que andou escutando Fausto Fawcett e amou. Falta eu perguntar se é por causa da Kátia Flávia ou se ele foi mais além, mergulhando na verve kamikaze do poeta loko karioka.

Por exemplo, será que ele leu

“Viver é lutar
Botar pra quebrar
Botar pra chorar
Botar pra gozar
Botar pra nascer

(…)

Do fundo do poço
Vem barulho de festa
Nem vem me dizer
Que o mundo não presta”

?

Essa colaboração sua com o bat-parceiro Carlos Laufer é boa trilha sonora tarantinesca-do-agreste pros tempos que vivemos.

Pronto, ferrou. Minha cabeça vagante já buscou na internerd: “has any kamikaze ever survived?”.

Vou escrever regularmente aqui. Depois de terminar um #diáriodeconfinamento pandêmico, é hora de encetar um novo caminho micromessiânico:

#ODIÁRIODEUMALIBERADA

(título totalmente provisório e não-aprovado pela numerologia pagã dos oito porquinhos sagrados)

Um abraço (de verdade, com tentáculos e a p#### toda) a todis os entis.

“Mas você tá curada?”

— ou: sobre o medo da morte e que cazzo é câncer, afinal

10 de junho de 2019

[Nenhum gato foi comido na confecção desse post]

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— Susana, você está com uma cara ótima! [obrigada] [em tom mais baixo:] Você tá bem agora, né?

Minha gente.

Porque é pra minha gente que eu escrevo esse textículo, com todo o amour do meu coração e limitação verbolânguida das palavras.

Gostaria de comentar, bom, algumas cousas.

****

Faz tempo que eu sinto a necessidade pessoal de falar sobre o câncer e a vida após um câncer para não-‘iniciados’ no baguio.

Essa necessidade me grita tipo wé wé alarme vermelho sempre que eu ouço a pergunta acima ou variações que, no fundo, querem dizer mais ou menos isso:

— Mas você tá curada?

Perdi a conta de quantas vezes tive que responder a essa interpelêition nos últimos 1.5 anos, desde meu diagnóstico no longínquo-pero-nope dia cristiano de 05 de outubro de 2017 até, sei lá, ontem. Ou daqui a pouco.

A pergunta frequentemente vem acompanhada de olhares temerosos/esperançosos que parecem sussurrar: “pelamor me DIZ que vc tá bem pra gente poder mudar de assunto e ser feliz?”

Não me levem a mal; eu não os levo a mal. Meio que todo mundo quer meu bem, eu quero o bem de todos.

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Mas, como uma paciente em recuperação de um câncer de mama vivendo nesse mundinho de meu-deus, percebo que existe um certo grau generalizado de desconhecimento sobre o câncer, essa enfermidade paradoxalmente tão comentada, tão ululantemente presente no nosso imaginário, nas novelas da Grobo, nos finais infelizes, nas famílias dos cinco continentes, mas que ainda é chamada de “the Big C” ou “aquela doença” por muitos, talvez por temor de evocações satânicas por meio de conjurações palavrísticas.

A palavra câncer anda junto com o medo da morte.

É o medo da morte que eu vejo refletido em tantos olhinhos inquisitivos pousados sobre os meus.

Eu sou escorpiana pacaraio, mas num sô feita de aço.

Esse muy sincero texto é uma resposta mais meditada à recorrente Pergunta. Espero que possa servir também como um convite à reflexão e um mícron de inspiração pra que hoje, hoje mesmo, eu-você-nós-el@s sejamos mais legais, mais humanos, mais solidários e mais felizes. Porque, sim, o dia de amanhã ninguém sabe. E isso eu já sabia antes do câncer, que por sua vez eu não tinha a menor ideia de que viria. Bom. Cêis me entenderam —

****

WTF IS CANCERRR

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Vamo lá, info básica (que muita gente me pergunta).

O câncer é um mundo loko, pra não dizer muchos mundos. Existem tumores sólidos (como de mama, próstata, ovários, cólon, pulmões) e tumores do sangue (linfomas, leucemia), e cada caso envolve um tratamento completamente distinto. O tumor pode ser local ou avançado/metastático (quando já se espalhou pra outros órgãos/ossos etc). A perspectiva pode ser de cura (também chamada de ‘remissão’, e que pode durar ‘pra sempre’ ou até uma próxima recorrência) ou de cuidado paliativo/cronificação, no caso de tumores metastáticos ou de alguns tipos de leucemia ou linfomas, por exemplo.

A definição clássica de câncer é o crescimento anormal de células dentro do organismo. Esse tipo de ocorrência pode acontecer ziles de micro-vezes ao longo das nossas vidas, e aos 70 anos de idade quase toda a humanidade já teve algum ‘câncer’ combatido silenciosamente pelo próprio sistema imunológico.

Hoje em dia, existem correntes de estudos que buscam abordar e tratar o câncer como uma doença metabólica ou autoimune. Eu leio muito a respeito, tenho interesse no baguio em primeira mão, claro. Se quiser vem falar comigo.

Os tumores sólidos podem ser detectados por indícios ou casualmente por algum exame de rotina (euu), e em geral são ‘visíveis’ a partir de 1 cm ou 1 milhão (!) de células.

Eles têm lugares ‘preferidos’ pra se instalar, mas já vi gente que teve câncer no joelho ou no pé.

A medicina convencional (odeio essa palavra, pero bueno) combina tratamentos como cirurgia, radioterapia, quimioterapia intravenal ou oral, bloqueadores hormonais e imunoterapia.

No meu caso — câncer de mama hormonal, luminal 1B, grau 3 –, o tumor foi descoberto ainda pequeno, com 1,5 cm de diâmetro no total, no quadrante inferior da mama esquerda. A cirurgia foi marcada no dia do meu diagnóstico, e foi o primeiro passo do meu tratamento, que incluiu um longo e árduo ano de quimioterapia + radioterapia e, há um ano, hormonioterapia (com previsão de mais 9 anos de tratamento).

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Os tratamentos evoluem continuamente e, apenas 15 ou 20 anos atrás, eu não teria passado pelo mesmo protocolo, com possíveis impactos sobre sobrevida e recuperação.

Por isso, o investimento em pesquisa É MUITO IMPORTANTE. Se vcs considerarem doar pra uma causa, taí uma veemente sugestão.

Eu contribuo com 3 projetos relacionados à investigação de tratamentos e ao bem estar do paciente, e participo como beneficiária ou voluntária de diferentes iniciativas. Normal. Comento porque pra mim é algo fundamental. Eu passei por tratamento sozinha na gringa, longe da família, e ter um amparo externo foi crucial. Hoje em dia participo de 2 grupos de apoio, além de estar ligada a comunidades de ‘breasties’/’amigas do peito’ na Espanha, Brasil e EUA, com mulheres de todas as idades, procedências e estilos de vida.

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É evidente que gestão emocional e estilo de vida cumprem um papel essencial na qualidade da saúde de uma pessoa, enferma ou não. Hoje em dia, por exemplo, sabe-se que a genética responde por apenas 5 a 15% dos casos de câncer. O resto é a vida e o caos. Por isso, ainda mais do que antes, assaz me conecto aos grupos de apoio e a temas relacionados a autoconhecimento e evolução pessoal, além de ter interesse por algumas terapias complementares (mais do que alternativas, porque eu sou a favor de conciliar com tratamentos alopáticos — essa é minha opção, e respeito a de cada um). Mas, depois de conhecer a história de centenas de pacientes, posso dizer uma grande verdade pra vocês: O CÂNCER, GENTE, NÃO DISCRIMINA.

Ao longo do último ano, conheci gente super zen e vegana que ficou malz e outras pessoas semi-junkies e estressadíssimas que tão aí super rosadas e saudáveis.

Acho importante explicar isso pra não-pacientes, especialmente os ‘sabidos’ que vêm com teorias simplificadoras sobre A Origem Emocional do Câncer. Sim, gente, eu sei. Obrigada por iluminar meu caminho.

 

O CÂNCER TEM CURA?

A pergunta do zilhão.

Vamo responder assim: o câncer pode ter cura.

Especialmente se é detectado em estágio inicial e ainda não se espalhou pra outras paragens.

Mesmo os cânceres mais avançados ou metastáticos podem — podem — ser tratáveis hoje em dia. O câncer de mama estágio IV (metastático) pode ser controlado em alguns casos. Eu mesma sigo umas mina fofa gata xóvens no Instagram que têm IV controlado há anos.

Ainda assim, o estigma da metástase é real, e nós, pacientes de câncer, temos paúra só de pensar na parada — se o câncer é considerado sinônimo de morte pra muitos, a metástase seria a antessala.

Por isso, existem tantas campanhas pra arrecadação de fundos pra pesquisa de tratamentos para câncer metastático. É o tipo de câncer que menos investimento recebe no mundo. E é super importante — muitos cânceres que hoje foram detectados em estágio inicial, como o meu, podem virar metastáticos adiante, seja em 2 ou 10 anos. SACOU.

 

MAS E AÍ, SUSANA, CE TÁ CURADA?

Sim!!!

Estou em remissão do câncer de mama desde o final de agosto passado, quando terminei parte essencial do tratamento e um check-up geral apontou que tava tudo NED (No Evidence of Disease, sem evidência da doença).

Isso pode mudar a qualquer momento. Ou não.

Explico meu caso porque pode também elucidar algumas dúvidas que vejo muita gente tendo sobre a vida ‘pós-câncer’ em geral.

No caso do câncer de mama, o protocolo comum são checkups mais frequentes nos 2 a 5 primeiros anos, com ‘alta médica’ dada a partir dos 5 anos (se o ser humano sobrevive nesse ínterim, claro). No meu caso, segundo minha oncologista, o risco de recaída é mais alto depois dos 5 anos (hooray), daí a suposta necessidade de um acompanhamento de 10 anos.

 

Me considero curada porque o câncer que eu tinha não está mais aqui.

Eu não tenho evidência de câncer desde outubro de 2017, quando uma cirurgia extraiu um quadradinho de uma prosaica matéria branca “with clear margins” (ou seja, conseguiram extrair o tumor inteiro).

Desde então, todo o tratamento que se seguiu foi preventivo, para diminuir a chance de uma recorrência (meu tumor era um grau 3 — o grau mais agressivo –, e um teste genômico chamado Mammaprint apontou um alto risco de reincidência).

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De cicatriz, restaram a auréola esquerda cortada e um corte na axila esquerda, além de tatuagens de pontinhos no tórax e nas laterais do peito (da radioterapia) e 6 pontos esmaecidos no peito, no lugar onde tubos de braquiterapia me atravessaram pra enviar radiação super powa pra região original do tumor.

Já de efeitos do câncer e seu tratamento, a lista é longa, longuíssima. Diária, minha vida.

Os efeitos físicos são duros, embora, como poderia dizer?, manejáveis. Posso citar uma bula de remédio tarja preta:

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– dor no corpo, menopausa induzida pela pílula que tomo todos os dias, calores/sufocos noturnos, insônia federal, altos níveis de cortisol (= ansiedade) por causa dos bloqueadores de estrogênio, brain fog (= Dori mode, que é como me refiro aos apagões e distrações mais frequentes no meu raciocínio, atenção e concentração), neuropatia (perda de sensibilidade nas extremidades), perda muscular, perda óssea, perda de visão, perda de elasticidade e ressecamento da pele, rigidez articular, ganho de peso/metabolismo mais lento, unhas (no meu caso, dos pés) esbranquiçadas/enfraquecidas etc.

Nem que eu queira esquecer, esses efeitos físicos estão aí pra me lembrar. E pra me assombrar às vezes, porque eu tenho que fazer 104370 exames periódicos e cada dorzinha pode ser algo ou pode ser nada, e é um labirinto do caralho, tem horas em que nem sei com o que devo me preocupar ou não. Eu tô aprendendo a gestionar essa montanha-russa de incertezas, e também a sentir meu corpo e suas mensagens com muito mais atenção e carinho. Isso não impede que em determinados momentos me domine o mais puro desespero, e aí minha meditação e exercícios de respiração e abraços do boffs e dos amigos ajudam MUITO.

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Mas o mais difícil de tudo, pra mim e pra muit@s que conheço, é lidar com os efeitos não-físicos do câncer.

É aí que mora, é verdade, a possibilidade mais preciosa de crescimento pessoal.. Eu acredito no poder da crise. Mas, gente, não vou adornar o processo com pérolas de autoajuda, não: é fudido.

A pílula que tomo todos os dias (e tomarei, por até 10 anos, embora eu esteja pouco a pouco ponderando se o farei mesmo, exatamente por todos os seus efeitos, e isso é um outro capítulo grande e gordo..) me bota em menopausa (não menstruo desde dezembro de 2017 e, a julgar pelos exames hormonais, nunca mais).

Meus ovinhos criopreservados em 2017 dormem tranquilos no Hospital de Sant Pau em Barcelona, mas não creio que serão utilizados.

A menopausa química traz de brinde ondas absurdas de irritabilidade, ansiedade e depressão. Isso, somado ao impacto traumático de toda a jornada, IS FIRE BEIBEIIIIIII!

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Eu sempre fui meio intensa e neurótica, mas sentir essa perda de controle sobre minhas próprias emoções tem sido fohda.

Particularmente, eu tenho resistido sem remédios, por convicção própria. Minha gaveta de calcinha tá cheia de tarja preta receitado pra depressão e ansiedade e insônia que eu nunca tomei, ou tomei um dia e disse tá-louco-meu. Opção pessoal. É muito difícil lidar com tanto bicho, e muita gente que conheço, tendo passado por câncer ou outros traumas (que a vida traz muitos pra todos nós), recorre a esse apoio. As únicas paradas que tomo são melatonina, valeriana e um azeite de CBD + cannabis receitado cuidadosamente por uma clínica privada de Barcelona, com apoio do meu clube de cannabis medicinal local (Barcelona tem dessas maravilhas, além de um sistema de saúde <3 <3). Combo antiinflamatório, ansiolítico, antitumoral natural. Não é a panaceia universal. Mas boto fé.

Sendo muito franca, tem dias em que eu tô chorando sem motivo e outros em que quero matar a humanidade.

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Isso + a incerteza sobre o que vai rolar é pra mim gestionável, mas exaustivo.

Antes do câncer eu já tinha umas crises, mas agora a parada amplificou.

Como viver em TPM ou (errm) menopausa full-time.

***

Portanto, dizer que estou curada ou “voltar à vida” depois de um câncer não é algo simples.

Acho que posso estar falando por outros pacientes também.

Não tem mais volta – existe um antes e um depois.

E, por isso, embora eu esteja aqui viva vivíssima mais do que nunca, e feliz paka por isso, tive e estou tendo que passar por um luto.

Luto em relação a quem eu era antes do câncer; à minha vida antes, minha disposição física e psicológica.

E, principalmente, luto em relação à inocência — aquele lugar mental quentinho e protetor que faz a gente acreditar que a gente é imortal, que tudo é pra sempre, e que estamos protegidos da vida.

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Não sei se o câncer vai voltar; é possível.

Não sei se terei uma metástase em algum momento da vida; é possível.

É possível que eu fique bem por muitos anos e possa envelhecer e ter uma casinha na praia e uma bicicleta vermelha, e ficar enrugada e sábia. É nisso que eu penso, é com isso que eu conto.

Às vezes cêis me perguntam se tô curada e um arrepio passa pela minha espinha, porque eu penso em tudo o que contei aqui, mas eu acredito que a melhor convicção a seguir é: sim, tô curada, tô xxxxóia!

Agora, xô falar que o culto excessivo ao positivismo também fode a cabeça do ser humano, como um bullying às inversas. Acho que a gente tem que se revitalizar, pensar positivo etc, mas também tem o direito de se sentir uma merda e com medo, desde que, claro, enxergue essa imersão como uma etapa num processo evolutivo. Porque, se a gente não olha de frente os bicho e senta com eles pra tomar um chupito e despachar pra nunca mais, os bicho continuam azucrinando.

E TODO MUNDO TEM SEUS BICHO.

Sei lá, again, talvez seja papo de escorpiana.

Sou valente para caralhos com asas, e digo sem falsa modéstia, e por batalha própria; e às vezes tenho cagaço. Muito, aterrador, paralisador.

Outras vezes, cada vez mais, não tenho medo. No fundo, no fundo. Porque morrer é um momento; viver são todos os outros.

Portanto, eu acho que se tô me curando de algo… é do meu medo de viver.

[obrigada a você que leu minha pensatinha até aqui <3 ]

Beijos e uma boa, verdadeiramente boa vida a tod@s.

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Ps. tem gente que passou/passa por processos oncológicos mais ou menos duros; mas se tem uma coisa que eu aprendi é que não tem sentido comparar. Não quero pena pro meu lado, ou um troféu, ou julgamentos externos de quem nunca viveu a parada. Cada um é cada um. A vida é issaê mesmo, e se tem uma pergunta que nunca estacionou no meu coração é “Por que eu?” — porque eu acho que na vida só se anda pra frente (embora, claro, eu me questione como posso melhorar meus hábitos e atitudes mentais e práticas etc). Tô abrindo minha intimidade oncológica porque quem sabe alguém possa se beneficiar ou se reconfortar com alguma informação ou desabafo. Quem quiser conversar ou tiver alguma dúvida, pode me escrever.

Total gaze, ou: Os Pecados São A Cria Do Coração

Wurrk in progress.

Port placement + taxol #1 de #12, 05 de março de 2018

So far so good. No dia 02, fiz cirurgia pra botar um cateter-botão no peito e poupar minhas veias de serem fritas e dissolvidas por essa droga assaz agradável de minha segunda etapa da quimioterapia chamada t*a*x*o*l. No dia da estreia do Alfredo (*nome provisório do meu portacath), num lance de logística dolorosamente difícil (a pé, recém-operada), levei gelo e ervilhas congeladas pra cobrir as mãos e pés durante a infusão. Objetivo experimental: tentar evitar neuropatia, essa dessensibilização das extremidades plus enegrecimento de unhas e etceteras bem desagradáveis e possivelmente um tanto duradouros que é um dos principais efeitos colaterais do taxol. Levei meu queridamigoale pra me ajudar com as ervilhas e a boa companhia. E, mesmo com medinho, pedi pelamor pro meu médico cortar os esteroides da parada, que eu não aguentava mais insônia taquicardia prisão de ventre refluxo inacreditável e cara de bxxcoitoxx globo. Voilà: num deu nada. So far. Yyyiioppoii
..
Desde semana passada eu tava também esperando o resultado de uma tomografia cerebral (cada TAC põe na conta radioativa da vida uns 500 raios-X de uma só vez, motivo pelo qual só é recomendada quando hmmm yea oh-oh) e choreindinho quando o doc disse q tava tudo bem, e que se eu sou louca é natural (meu onco é baterista de jazz e tem a personalidade ninja-irascível de uma onda no mar)
.
.

Assim, vortando: CORTARAM MEUS ESTEROIDES E TO BEM. TO DE CARA.

Esteroides

Esteroides são substâncias mooointo importantes produzidas naturalmente pelas nossas glândulas endócrinas. Estão ligados a ziles de funções fundamentais, como regular o metabolismo, a resposta a inflamações, a pressão arterial e o estresse. As versões sintéticas são usadas como coadjuvantes de alguns tratamentos de câncer e também como antiinflamatórios e antieméticos (ou seja, ajudam, com outras paradas tipo ondasentron, a diminuir alergias, dores e náuseas em quimios enjoísticas master blaster como o AC, que fiz antes). Nas bulas, são a dexametasona, prednisolona, hidrocortisona e outras onas, também chamadas genericamente de corticosteróides. Não confundir com anabolizantes, outro tipo de esteroides sintéticos com Schwarzenegger goals.

O uso reiterado dessas belezinhas também aumenta o apetite, a taquicardia, a insônia, a cara de bolacha, a taxa de açúcar no sangue, e dão um refluxo/heartburn/acidez difudê.

Espero, tenho esperança, tenho fé e advogo q essa parada ao mesmo benéfica e destruidora seja substituída por soluções com menos efeitos colaterais num futuro próximo.

Gentz tomando esteroides com as infusões de quimio: algumas drogas não necessariamente requerem o uso coadjuvante de esteroides. Pode-se eliminá-los, diminuir sua quantidade ou substitui-los por outra drug com menos efeitos foda. Durante as sessões de AC (adriamicina e ciclofosfamida) seu uso pode ser mais importante, mas, se não rolarem fortes alergias com o taxol, é possível, sim, ficar sem. Eu só sei disso porque sou uma rata de fóruns e sites especializados. Fale com seu médico alwayyys.

El taxol

Uma das drugs mais badaladasmm contra o câncer vem da cortiça de uma conífera nativa do pacífico norte, vulgo uma árvore que parece um doce pinheiro de natal com frutinhas vermelhas.

Taxol, taxotere, paclitaxel, todos nomes que se referem à mesma substânciammm extraída da casca de uma árvore do Pacífico chamada teixo (Taxus brevifolia, Taxus baccata). Eu tinha 17 anos quando a FDA aprovou seu uso terapêutico pra cânceres de ovário e mama.

Hoje em dia também é parte do tratamento de diversos outros tipos de câncer. Estatisticamente, é a droga anticâncer mais pop e requisitada que hay. Age dentro das células de divisão rápida por meio da interrupção ou parada mitótica, that is, matando as bicheta por asfixia celular.

Agowra agowrita há indícios de que menos de 50% dos tumores respondem efetivamente ao taxol, motivo pelo qual tem gente estudando a possibilidade de desenvolver um biomarcador pra indicar se um paciente se beneficiaria ou não dessa cortiça fatar, ao invés de ficar pelos cantos tendo dor formigamento chemo brain fadiga loukura anemia cabeloless life unhas caindo secura na pele feridas na boca minhocas na cabeça Olodum no coração. To be continued…

Os pecados são a cria do coração.

Essa frase me veio em um sonho.

One day in the life

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It’s been tougher than words can say. A long, uncertain journey, that brings the prospect of a (mandatory) inner transformation, but painful, really painful. Friends, family and co-workers have been amazingly supportive (and, actually, even strangers), and I’m thankful for being surrounded by love — but in the end this is a solitary route. Fine, that’s supposed to be kind of an Enhanced Existential Principle, like, we’re all alone etc, but right now… OH BOY WHAT A SCARE.

It hurts in my heart, in my ghost tumor, which I currently don’t know whether is still micronavigating somewhere in my body (noooo), and, actually, it hurts all over. Each physical or emotional pang, twitch or goosebumps rings the red button in my cracked head. Is it it? What is it? I’m getting used to that “C word”, that taboo word, that everybody-looks-down word — Cancer. Qué más da. I’m a warrior, I’m a chicken, I’m a warrior, I’m selfish, I cry some more. I’m a wreck right now, I Can Everything, I’m lost. I breathe, I concentrate, I meditate, I cry some more. I get ashamed of crying, I say to myself I’m brave, then I weep like a child at hospital corridors, public bathrooms, bank queues, my pillow at night.

And the things I hear. Ouch. I know most of them are well-intentioned. What would my comforting words be if it wasn’t with me? Tough, I know. But guys, #justsaying: please, as much as you can, try to acknowledge what a cancer patient (and, actually, anybody who’s having a really tough time) is going through. No, my cancer is not “easy”. It isn’t “nothing” — I feel it, I’m sorry, I honor my pain. It often feels like a nightmare. On the other hand, I know one’s got to #riseandshine (my new puppy mantra) and be strong and positive, cause — I do believe too, I’m trying! — that’s the right thing to do. Ya. I feel you. It’s getting hard. ;) Finally, please, don’t tell me about the cousinofthewifeoftheneighbour that passed away from cancer. And, please, try not to cry or act desperate/dramatic to show your sympathy, cause deep inside this only makes me sad (and desperate and dramatic, for I’m a sponge for emotions lol). I know you care.. If you can, please, send me cute cat memes instead. Let’s talk about life.

Hm errm right.

I’ve been saying to my dear ones: please, don’t worry about the right words. Just be with me. That’s so important. It’s usually so hard for me to ask for help (I know I know I’m terrible). And, also, as I said, talk about life. I want to know your stories and your fears and happy moments too. Don’t reduce their importance, thinking oh, she’s got cancer, nothing compares… Nobody compares to nobody. We’re so unique. I’d go mad if I thought that.

I was supposed to get some results last Thursday, when I had my first appointment with the oncologist. I like her (a relief, cause we’ll be seeing each other for quite some time). Practical and attentive. Maybe too practical. I got no further answers from what I’ve already been told — I’m a stage 1a (good), grade 3 (not good), HER2-, PR+ ER+ (super hormone positive). Instead, she sent me to some CTs, bone scintigraphy, (more) blood tests. Also, we’re sending a paraffin-embedded sample of my tumor for a MammaPrint genomic test in Amsterdam, and I went in person to pick it at the hospital and take it to the clinic. Walking around Sarrià on a sunny autumnal afternoon with Mariah in my bag, what a blast.

The delay on knowing what’s next kills me sometimes, but I’m slowly learning how to cope with uncertainty. And whenever I feel weak and weary, I remember the radiologist’s words, one day after the diagnosis, as he performed a lymph nodes echography on me (while I sobbed and stopped, self-punishment style): don’t see this is as a problem, but as the beginning of the solution.

Yoga, respiratory exercises (thanks to my wonderful personal coach and sister rubita TM) and love from dear ones has been my medicine. I got beautiful flowers from work, lots of lovely hugs, comfy food and deep, heartwarming conversations.

What about love for myself? I find it easier to pity than loving myself, but I’m learning. I’ve been playing around with some post-surgery selfies, and I like it, and this in turn is giving me one or two ideas for the near future. <3

I’m also connecting with some amazing women who are facing BC or have been through it — and more. Cancer is closer to a chronic disease than ever — that means that treatments are improving patient’s lives and life expectancy, but also refers to the fact that the fear of recurrence is real, and long-term. I’ve been meeting wonderful beings who have been through an awful lot. Each experience is unique. I’m learning with them, and with mine.

The other day I had a normcore dream, like, just a normal day in-the-life, I mean, for some of you, cause to me it’s a dreamday, a cancer-free, care-free day, with normal errands and normal rights and wrongs like not long ago, and, well, when I woke up it took me some moments to realize my real non-normcore reality, and when I did it felt like a Full Shock from fringe to toes, THIS CAN’T BE.

But hey, acceptance and warrior spirit are coming in waves.

I’ve been to four hospitals today, between transporting tumor samples, explaining my breast cancer to a team of gynecologists so they could tell me whether public health could fund a cryopreservation of my eggs (errm?), plus CTs with contrast (yey, signing papers where they warn you that you’re about to receive the equivalent of 900 x-rays and, hey, THAT might increase your risk of getting cancer, ora ora) and some paperwork. I went through the day without freaking out, kudos for me. (nonono, Susana, it’s just what you’re supposed to do now, be brave, be positive, you can, feel the love, focus etc) (I hear this all the time, but I’m my toughest couch). And then, at the end of the day, while I nonchalantly explained all this to my bf I went: wow.

And wept some more, this time on my (medicinal, inspiring, really brave) boyfriend’s shoulder, cozy as an autumn evening, a Friday evening, never again trivial………..

Abertura

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eu//por//eumesma//1semanadepoisdacirurgia

Pouco mais de duas semanas atrás, minha vida mudou.

(eu pensei em mil maneiras de começar esse dificílimo texto de forma mais original, mas é issaê precisamente rapaii y además cos dois pé na porrta)

O diagnóstico. Câncer de mama. Eu já vinha fazendo exames há mais de um mês por conta de um nódulo, e a cada novo pedido de uma radio ou biópsia (eu fiz duas, com bag, que é aquela agulha matadoira, até eles concluírem que a mariah era séria) uma angústia renovada apertava meu corazónzinho.

No dia em que teria que sair o resultado definitivo, fui caminhando lááá da putaquepariu em Barcelona (onde vivo) até o hospital. Tipo peregrinação, um step at a time meditação mointo ativa. Era 05 de outubro, uma quinta. Sem hora marcada, cheguei na recepção do setor de radiologia e peguei o informe médico. Abri e tava lá

carcinoma

invasivo

Nem vi mais nada. Falei que não saía dali sem um especialista me explicar que coño/caray/fuck era aquilo. A voz saía pastosa e eu tava me sentindo uma ervilha super cozida. Algo assim distante viscoso foradocorpo e muito muito insignificante.

(essa sensação, aliás, às vezes volta ainda)

De alguma maneira consegui chegar no quarto andar, onde ficava a área de ginecologia (nunca um trajeto de elevador foi tão loko). Long story short, as mina da recepção me olharam, viram meu nome e disseram entre elas: ah, é ela (mais sensação de viscosidade altercorporal). O doutor vai te ver agora.

E eu sentei na sala da recepção, ao lado de casais e grávidas alisando suas barrigas. Sozinha.

— Sozinha? Você está sozinha? — perguntou o médico mais tarde, durante a consulta. Eu olhei pra ele um pouco perplexa. ‘Sozinha… no mundo ou aqui?’.

Porque eu não pensei. Eu não sabia como era. Eu não tava acreditando. Eu nem sabia o que fazer — se eu disfarçava ou tinha um treco ali na frente daquela plateia tão comfort lavanda (aiin Susana sua exclusivista. é que no momento a gente pensa que ninguém mais — ).

O médico efetivamente veio, um senhor catalão de cara simpática y cansada com seus cabelitos brancos, e me disse, amável, mas distante, que eu fosse até o restaurante no térreo comer alguma coisa enquanto esperava ele voltar da reunião com a junta médica, dali a uns 40 minutos.

‘Comer?!?’ — quase creio, em minhas memórias obnubiladas, que brotou um meio-sorriso no meio de minha figura trêmula. E se foi.

***

O pior do diagnóstico foi uma sensação horrorífica de solidão + um medo do carayyyo de morrer. (não, não me digam nada, eu já ouvi demais, mas sobre esse delicado e multiversável tema eu falo mais outra hora). E, finalmente, impotência. Eu? Por quê eu? Se me sinto tão saudável! O tratamento vai me fudê a saúde. E nem sei se vai funcionar. E. E.E. E esse médico que não me consola. ‘Sim, não é uma boa notícia, mas existem tratamentos’. Não NÃO, me diz que eu vou ser salva, que vou viver!! ‘Você tem sorte, porque entre mulheres mais jovens o tumor tende a ser mais agressivo’. Pausa. Eu devia estar com uma cara bem loka. ‘Susana: eu preciso de você aqui agora. Você está me entendendo?’. Eu agarrei a mão dele, chorando. Não sei se outra vez a memória obnubilante distorceu o momento, mas achei que ele se emocionou. E me abraçou. ‘Nós vamos te curar’, disse. E é por essa única frase, mais humana que científica, que pude me sentir 0,01% melhor.

Saí do consultório e naquela tarde mesmo comecei uma bateria de exames preparatórios pra cirurgia de extração do tumor. Só não operei na semana seguinte porque havia um feriado e, de leve, ia rolar a declaração de independência da Catalunha (veja só que momentaço interessawnte pra rolar tudo isso).

***

A cirurgia de lumpectomia e extração do gânglio linfático aconteceu no dia 17 de agosto. Sim, eu tive ‘sorte’: não é uma mastectomia (quero falar mais sobre as sutilezas da questão adelante). Eu tive amigos e meu namorado comigo, fui muito bem cuidada. Minha família está a países ou a um oceano de distância, no caso dos meus pais, mas está sendo incrível. Valente e serena. Eu que sempre me considerei meio ogrinha antissocial (ou ‘chatinha’, segundo um querido amigo meu, que me acolheu em sua casa após a cirurgia ;) ) me surpreendo com a generosidade que vou encontrando pelo caminho. Sou muito grata pelo amor à minha volta.

Agora, esperando o resultado da biópsia do tumor pra saber os próximos passos, estou respirando mais fundo, vendo mais colorido. À noite os fantasmas vêm me visitar, e tenho medo, sim. Muito medo. E fascínio. Que eu sou escorpiana e arxtista caray. Mas eu sempre acreditei no amanhecer.

***

Estou contando essa história, me expondo de uma maneira que não é muito fácil pra mim, porque eu acho importante. Pra mim, pra outras gentes que estão vivendo ou viveram um câncer, especialmente de mama, e, na real, pra todos nós, por tantos vastos motivos. Eu até gravei um recadim (relevem a qualidade, que eu gravei no rompante tipo foda-se-preciso-falar no dia anterior à cirurgia):

Desde o diagnóstico, já me informei paka e tenho uma perspectiva cada vez mais profunda do câncer, sua evolução e tratamentos. Além disso, tá sendo uma intensa odisseia interior. Eu vou criar um espaço pra compartilhar alguns aspectos dessa errrm experiência na medida em que puder, porque quando eu encontrei na internet gentz parecidaz passando pelo mesmo e escrevendo a respeito eu pude me sentir muito, marr muito mais recolocada no mundo, e daí quero contribuir com meu pãozim.

Aos poucos, também uma ideia criativa está vindo. Logo menos vou botar isso pra fora. Transformação, movimento, rise and shine…. >>>

king lola – say it right

 

 

Ps. em breve vou traduzir meu palavrório pra inglês e espanhol, que eu tenho amigo em tanto lugar que gostaria de tornar isso acessível pra eles (e outras pessoas) também. Vou fazendo, mas se alguém superpowa puder me dar uma força também please me diga. Muitas gracias xx :)

sunset - almas creadoras

One day you finally knew

what you had to do, and began,

though the voices around you

kept shouting

their bad advice–

though the whole house

began to tremble

and you felt the old tug

at your ankles.

“Mend my life!”

each voice cried.

But you didn’t stop.

You knew what you had to do,

though the wind pried

with its stiff fingers

at the very foundations,

though their melancholy

was terrible.

It was already late

enough, and a wild night,

and the road full of fallen

branches and stones.

But little by little,

as you left their voices behind,

the stars began to burn

through the sheets of clouds,

and there was a new voice

which you slowly

recognized as your own,

that kept you company

as you strode deeper and deeper

into the world

determined to do

the only thing you could do–

determined to save

the only life you could save.

Mary Oliver in New and Selected Poems (vol. 1)

:: o puteiro e os meus filhos

alice no país das maravilhas por dali - A Caucus Race and a Long Tale

Alice no País das Maravilhas – ilustração de Salvador Dalí

ontem estive num puteiro discreto.

numa rua romanticamente antiga, prédios antigos, ar antigo a suspirar por bueiros antigos a mesma puta antiga canção, que não sei qual é, não consigo ouvir, nos meus sonhos é apenas recuerdo, no me acuerdo..

entramos pra uma copa de vinho e a continuação da conversa. só a senhora detrás do balcão, madeira escura, tevê com volume no talo, o timing do señor desdentadoperoelegante que entra diligentemente cinco minutos depois e se senta no banquinho ao lado e pede provavelmente o que sempre pede.

queria nos pagar um vinho. falávamos de i-ching. éramos só nós ali, no silêncio de uma noite de pueblo.

a senhora tirou a medalhinha dourada que levava numa corrente no pescoço e o balançou sobre nossas palmas. disse que eu teria um casal de filhos.

ela, casada e divorciada quatro vezes, madame, os olhinhos claros, açucena.

<3

:: D’antanho

pra onde vão
os passarinhos
quando
morrem?

Não importa quantas vezes
você sabe quantas vezes
você tem que falar
no ouvido
pela pele
por poros
abertos
ao pulso
sem água
minguante
cortando gargantas
das tuas pequenas historinhas
sem aço
eu vejo você
apertar o passo até a porta
segurando pelo pescoço
todas as tuas vozes

21:13
bill arranhou o braço do sofá . deitou . o ventilador de teto era
marrom . morreu.

22:19
ele passou a mão pelo cabelo e a sujou de sangue.
não!
ele passou a mão no cabelo, de onde se desprendeu um cheiro ocre, vermelho.
não–
ele passou a mão pelo cabelo e lembrou que tinha que pegar as roupas
na laundry aquela tarde.
Não tinha ainda se acostumado à vida mondriânica (passas, paris,
texas) daquele seu quadrado. Morava a dois quarteirões da Paulista,
mas era schrimp (?) o tempo inteiro. Pois ele passava a mão
ininterruptamente pelo cabelo quando desceu aquela calçada, sol a
pino, esperando verão, hora aleatória do dia.
Quando pulou o terceiro buraco no concreto, sentiu uma pontada no lado
direito da barriga.
Uma pontada, não, uma porrada; inclemência.
Segurou-se numa árvore do projeto-urbanizeSP. A mão rastelou o tronco
e chegou depois do corpo ao solo: barulho surdo: tac.
Quando despertou, havia gavinhas em torno dele: tinha virado um
maracujá, passion fruit, pura noite.
Pensou: amanhã eu pego as roupas.

18:22
Esta é a estória de Iko-Iko, o garoto que vivia entre paredes.
Não que vocês não saibam do que estou falando. Todos somos, em maior
ou menor grau, indoors-bichos.
O dia de Iko-Iko começava com um pequeno périplo quarto-banheiro-cozinha.
No geral, terminava com o curso inverso, a não ser quando havia um
filme bom na tevê — nesse caso, adormecia no sofá da sala.
O miolo do dia transcorria como variação sobre o mesmo tema,
acrescentando-se a supracitada saleta-de-estar, que ficava entre o
quarto, o banheiro e a cozinha.
Um dia, Iko-Iko se suicidou.
Muitos dias se passaram antes que alguém arrombasse a porta e
descobrisse o corpo de Iko-Iko, já em avançado estágio de flibbers,
agachado num canto da salinha-de-estar, tal múmia inca.
A tevê encontrava-se desligada. Tudo mais ou menos arrumado, pois
Iko-Iko não era de bagunça. De um copo em cima da mesinha-de-centro,
recheado de matéria cremerela, emanava um cheiro azedo de anteontem.
Iko-Iko foi enterrado sob o solo da área de serviço, único território
inexplorado em vida pelo garoto. No epitáfio, um pedido: não comam a
minhoca.

17:37
ODE AO SANGUE

Aquela fina dor que redondeia os campos-sonhos
à distância o latejar de velhas carroças, sem poeira, por favor, pra
não manchar a pureza da cena de verão
eu me demoro no vermelhovidro imanente-pulsante por trás da moça
líquida sobre o pano; ela quase desfalecida, como um bom quadro;

no vermelho eu resido, encampar solitário, sem requinte de extração,
nenhuma distância, somente o líquido puro e jato, glopiscando no
plástico transparente, aquele tubo de ouro que guarda um sobrenome,
escarlate força, eu me desalinhando em outro, o sangue me tomando
enrubescendo ruborizando roux roux roux, manhã intensa como o dia em
que coletei sangue, talvez o dia em que morrerei, amo-te, sangue, meu
sangue, minhas veias venas, que saltem sístole-diástole, prolonguem a
saúde do meus meses memes (Aqui Entra O Outro), manifestem a
verdadeira cor da terra, onde todo sentimento afila e morre, dá lugar
ao inato, sangue-verde, toma meus braços e faze-os ferver, dizei tudo
em pretéritos de língua estranha, oculta lógica do viver-morrer,
respira em falso porque tudo em você é falso, tudo brilha como nunca.

hoje eu coletei sangue
11.03.05 – sexta quente

15:09
OOOOOOOFFFFF! EU SOU EU NOVAMENTE! OH, BELA VIDA, RETORNAR A SI,
DOMENICA, LUZES, UMA BOA NOITE DE SONO E——-> UMA XÍCARA DE CHÁ
QUENTINHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

2:52
(((Devotion — Earth, Wind & Fire)))
Minha mãe esvoaçante, meu pai parelhando suas vistas azuis com o mar,
aquela onda antiga, o banho e o deque de madeira, o caminho de terra,
o chão tão próximo e povoado de existências estranhas, o porto, a
sopa, o trabalho de escola sobre abelhas, as tardes e o medo do não, o
radinho.
Vou comer todo o papel, os cabos de fibra ótica, minha boca vai
reclamar sozinha até um raio fritar minha cabeça e eu pender como um
ratinho para o lado direito, pobre ratinho que não teve história.

2:08
e eu, que sempre me pergunto o que vem depois dos finais,
sempre que vejo o roll, sempre que durmo,
sempre que canto, penso que termino,
mas não vai embora,
tamborila aqui comigo,
e é presente como a minha mais perfeita gota
que meu corpo, tamarizado, virado em globos egípcios,
poderia em toda sua concentração plup.

2:05
naquele dia eu reluzi(a) em perfeito vermelho-tarde;
com o metal, éramos um grande e luzidio sáurio
retendo todo o verde dos cactos americanos
engolida-nos por fora, jamando-lãs brancas peles
que coisa — eu abaixei por um momento —
porque havia aquela pedrinha tão pequena
e, ao voltar-me para a estrada,
nada.

14:08
eu
não tenho nada contra
andar
cambaleando
até cair

:: eu te odeio

eu te odeio,

eu te odeio com todas as minhas forças,

eu te odeio brilhantemente como um casco luzidio de cavalinho upa upa ao sol de western cries,

eu eu eu te odeio odeio odeio você você você.

quem quer que seja você, quem quer que estejamos, eu passo a mão pela pele e é fria e tombadiça, marujo desequilibrado no convés que nunca vi, mas como te quero, como te quero morto e frio e tombadiço num convés a caminho de Ceuta, esse país de livros, teu cadáver bem arranjado com flores e uma noiva muito branca chorando aos seus pés.

eu te odeio porque te amo, odeio te amar, odeio não ter o que fazer com este amor, com este ódio, com esse véu perdido nos idos de 2012 que me deixa a sala pequena, olho-me-olha não estamos à vontade um com o outro, quem é você?, sou seu véu branco e perdido, eu sou sua dona, que digo!, mas não mais, nunca quis, não é verdade? meu corpo se movimenta táctil e soberano entre névoas, e sou uma naja porcina recendendo a jantares em sítios de coroné. Eu li muitos livros, de que me adianta? Se sou uma triste sombra, se ando pela areia e os dedos estão sujos, quem vai beijá-los? que me beije imunda.

:: zefiní

zefiní, estou tonta.

bebi mais da conta, estou tonta.

quero ligar pra ele, quero um colo, um carinho, estou tonta, esvaio por um buraco pequenino e sem importância, esvaio como uma guimba no bueiro, por onde alguém passa, por onde alguém pisa e nem se liga, estou indo, indo….

estou me esvaindo.

girando no vazio, cambalhotas no vazio, arte vazia no vazio, estou-me indo.

que orgulho o quê, que passado e que futuro, que presente-presente, não creio em nada, só no impulso, no tropeço que me acorda a fuça vazia no solo áspero como uma gilipollas, yo quiero caer, déjame caer, que não me venham braços ou poesias, que isso tudo me cansa, me faz fundir sovaco com mão com resto de pelos sobre o travesseiro, assim um tudo-sem importância.

eu bebi, eu bebo, eu faço como se fosse uma onda, uma gaivota tentando equilibrar-se num puto tronco, coisa nenhuma, pra motivo algum.

nem o pôr-do-sol, nem a gilete, nem o banho quente. nem nada. nem uma nota sequer, que não me venham acordar com as frases de requinte, as frases quentes pra deixar meus pés quentes as orelhas quentes que alguém já adiante na esquina se desocupa em dizer susana-tadinha-está-triste.

estou triste, estou miserável, isso não é nada perto de quê, de nada, de guerras e canudinhos listrados em bocas pintadas de rosa num bar onde falam catalão, isso não é nada, minha filha, já passei por coisa muito pior, todos passam por coisa muito pior, onde está a comunicação? a comunicação em silêncio, todos gosma abaixo pelo bueiro, nos encontremos no miasma, nesse puto frio de tarragona, no puto frio de minh’alma.

:: Nam tales #1

sean flynn - self portrait - cambodia

“This will be the end, I know,” Lili had cried to a friend on learning that Sean was headed back to Vietnam that March. Interviewed by the Palm Beach Daily News the day after her only child, and only living blood relative, was reported missing, she quoted the close of the letter he had written to her minutes before his flight from Saigon to Phnon Penh. As if he shared Lili’s sense of foreboding and was bracing her for the news to come, he encouraged her to take comfort in “this idea that all things here in the world are God’s toys, you, me, Cambodia. Make peace with Him and your heart is still. Do you know how to do it? Watch the plants, rains, sunsets, bugs, the changes in the wind, sea and clouds. Watch them and relax in peace. There is a place for all us.

“Must go,
Love, Sean”

from: http://www.thenervousbreakdown.com/drhaney/2013/02/nowhere_men/

Sean Flynn – self portrait

:: dessignificados

passarinho

hoje, no bureau aqui no distante, longínquo, talvez mais-perto-que-nada Camboja, um passarinho ficou preso. batia nas janelas fechadas, procurava ar, não conseguia escapar. eu abria os vidros, as portas, eu o chamava, ele não sentia o vento nas asas, com o bico entreaberto, talvez de cansaço, pousava sobre as gigantescas pilhas de papel empoeirado, em cima dos armários de madeira vermelha meio empenados, sobre as mesas de escritório. eu chorei, chorei….

voltei agora e ele saiu. sumiu………..

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