::charleston (ou: paixonixx§stupid trovinha)

eu me lembro: estava ouvindo um piano ao longe aquela noite.
ninguém tinha falado comigo no caminho. isto era bom. de certa forma um calor humano às avessas. ninguém, todo mundo, idemreversovezes-hum (1).
antes de voltar, parei diante do mar. bem perto mesmo, estiquei-me pra encarar ele mililitro em córneas doces, eu-ele-eu. de novo aquela estranha sensação de pertencimento universal, de patas suaves maternas.
não podia dar errado, eu pensei.
mas deu.
agora estou aqui, diante dela, e ela não me estende mais seus braços e não me chama pelo apelido que nós dois, só nós dois, conhecíamos.
já era tarde pra pedir um chinês. comemos lentamente duas latas de ervilhas duras e antigas, e eu perguntei como havia sido no trabalho. O que tem pra ser? ela perguntou, distraída. Nunca tenho nada a dizer. E não dissemos nada.
observei-a enquanto barulhava o fundo da lata com a colher. não era a mesma há muito tempo. eu sou o mesmo. ainda agora, o mesmo. e a amo, apesar de tudo.
tudo o quê? era vagamente no que meditava quando acenei da janela. Já volto, disse. Não saia daí, tenho uma surpresa — e, no mar, aquele mar, naquela tarde quase noite, peguei uma concha qualquer. E a concha não me causou nenhuma sensação. E a concha devia ser para ela, eu devia ter dado a la, mas não me ocorreu, não deu tempo, e, mesmo que —
volto a observá-la. tão linda e estática. ou a beleza de sua ausência espiritual, aquela oscilação diária e mesquinha. agora o tudo. e o nada.
os olhos vítreos voltaram a si por um momento:
— seu cachorro.
eu sei, eu sei.

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